é como se fosse ontem. foi onde tudo começou. ia a caminho da praia grande na carrinha encarnada gigante com manas, primas e tia T. estávamos a passar um dias na serra de sintra, em casa da avó. ia perdida a olhar para as árvores de outono e decidi abrir a janela - as curvas da serra sempre me deixaram a ver a dobrar. cabeça de fora e foi quando aconteceu: caí em mim. comecei a pensar no mundo, olhando-o de fora. como quem assiste a um filme. e tentei andar para trás, chegar a respostas de "quem foi o primeiro". o primeiro que por aqui andou e que tudo começou. o arquiteto da maravilha que era tudo aquilo. depois de um esforço real, não consegui. passei à pergunta seguinte, tentando imaginar como é que tudo seria se não houvesse mundo. mas isso implicava que tudo aquilo que conhecia e que tinha como certo, certíssimo, não existiria. nada, nada. a praia grande, a piriquita, os meus pais, os meus irmãos: nada, ninguém. a sensação de vazio começava a aterrar e a gelar-me. e foi quando me lembrei daquilo: o sítio onde, nos últimos 24 anos, marquei presença a cada domingo. tinha que existir alguém que me queria ali, alguém que me criara porque sim, sem complicações. para ser amada e para amar os que me fossem dados. alguém que me enviaria em viagem, esperando-me anos mais tarde com uma mochila cheia daquilo que foram os tempos passados por aqui. nessa noite, dormi descansada. não só por saber que este caminho era um enorme presentão, mas por saber de onde vinha e para onde iria. na mais pura liberdade dos filhos de Deus, subiria os sete degraus de mão dada a um Pai que agora sabia como meu.
e agora, passados alguns anos, vejo a cara de radiante dela ao saber que ele, de centímetros, está ali. está nela e com ela. está neles. e é deles. e porque sei que para ela, ele, de centímetros, é um dom. um tesouro daqueles irreplicáveis, por ser demasiado bom para ser verdade. e porque percebo que para ele, ser pai é mais do que uma eventualidade: é o resultado físico e visível de um amor maior vivido pelos dois. é a personificação desse amor, daqueles que queremos para toda a vida.
e agora, passados alguns anos, reconheço que a vida é vida desde antes sequer de o ser. e que é 300% vida desde o primeiríssimo momento da conceção de uma criança. não há idades, horas ou segundos. a lógica, neste caso, não é matemática: é de amor. se nos é dado, então venha a capacidade de reconhecer a maravilha desse bem. agradecer, agradecer. e agradecer. e amá-lo, sem regatear. ser, simplesmente, simples. simples é algo que deixámos de conseguir ser, num mundo em que tudo pretende facilitar-nos a vida. perdemos a capacidade de descomplicar e aceitar que a vida é boa e simples e que a liberdade serve para decidir com vista a um bem maior, sempre. sem altruísmos ou egoísmos. e simples são as vidas humanas, desde a sua conceção. e complicados somos nós que nos esquecemos que cada criança que vem traz um pão debaixo do braço.
CAMINHADA PELA VIDA 5 de Outubro 2013 15h Marquês de Pombal - Praça do Rossio
e aproveitar, de sorrisão, a alegria dos 22ºC e de termos os nossos pais, que souberam dizer que sim e por isso estamos aqui, com capacidade para escrevermos a nossa própria história
3 comentários:
Que post tão bonito, minha querida!!
Escreves tão bem. Quase que dá para fazer O. com o que escreves!
Beijinhos
Aninha!! Escreve mais!!!
bjs
Im back!
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