Páginas

sexta-feira, 4 de abril de 2014

sou só eu

que já não aguento as duas miúdas de touca na capa deste blog?!

sobre a H, para a Vera


viveste aqueles nove meses a agradecer a vida que aí vinha. reconhecias a maravilha do dom que lhe era dado. reconhecias a maravilha de vir mais um, são sempre tantos e tão poucos. a família, dizias, quer-se grande, quer-se gigante. querem-se casas de confusão, querem-se tapetes gastos, querem-se paredes riscadas e quer-se divisão de roupas até à exaustão. e com ela, sempre tinha sido assim. com ela tinhas vivido os primeiros nove meses, com conversas que não acabavam. e não acabaram cá fora, nunca. a ponto de tantos se perguntarem o que é que aquelas duas, que vivem debaixo do mesmo teto, ainda têm para falar? mais tarde, com a chegada da idade do armário, passou a ser a pessoa que querias mais longe, à distância do sol sff. e quando reconheceste que os nove meses valiam mais do que qualquer coisa e te reaproximaste, descobriste que ninguém te conhecia melhor, ninguém te percebia melhor debaixo de água, ninguém era tão parecido contigo como ela. e ninguém era mais diferente de ti, também. e passaram a ir sair juntas à noite, dançar até de manhã e voltar para casa de vespa, sem carta mas radiantes com mais uma noite passada a duas. as amigas começaram a ficar irritadas com tudo aquilo, agora bastavam-se uma à outra! descobriste o que te ficava melhor e pior ao ver nela o reflexo do que eras, foste cobaia de cortes de cabelo, fizeram viagens juntas, leram livros a meias e planearam viver no mesmo prédio apenas separadas por uma porta - sem chave.

a vida avançou e com ela a realidade. continuaram próximas-que-enjoa mas agora cada uma no seu caminho. e foi há seis meses que te contou que daí a seis meses nascia mais um bébe na família. acompanhaste aqueles nove meses com um amor diferente, esse bébe estava na barriga de uma pessoa com quem já tinhas estado dentro de uma outra barriga. raciocínio complexo. ele dizia que andavas nostálgica como se a criança fosse um bocadinho tua - e era. e é.

passaram-se os tais seis meses. estava a sair da V a caminho do metro. o dia parecia-me diferente e quis esperar pelas 21h para pôr o pé no elevador, afinal de contas o hospital seria sempre ali ao lado, caso ela já lá estivesse. passava por Chelas e ia a ler o livro que ele me tinha dado, quando recebi a mensagem do L: "a vossa irmã vai ter o filho agora!". fora de pieguices, o senhor que estava sentado à minha frente deve ter lamentado os sete quilos de cebolas que eu tinha estado provavelmente a descascar. coração pára, sete segundos. do L, outra vez, recebo um "agr! é uma miúda!". mais setenta cebolas para a mesa sete e o coração re-arranca. metro chega a São Sebastião, corro na fuga das galinhas para a linha azul, três minutos que parecem trezentos e chego finalmente ao carro. apanho os pais e corremos para a maternidade. chegamos ao quarto e dizem-nos que a Teresa ainda está no recobro. tudo fica descansado e à conversa. e é aí que eu decido que preciso de a ver.

começo a andar pelos corredores, trás-frente-trás. não diz recobro em lado nenhum, será que é para despistar pessoas como eu?, continuo a andar com ar bonzinho e 100% suspeito. decido perguntar, como quem não quer a coisa, é no piso de baixo menina diz a enfermeira desconfiada. sorrisinho e finjo ser apenas curiosidade. mal ela vira costas, atravesso o corredor em passo rápido, ele vê-me e acena que não com a cabeça a saber perfeitamente para onde me dirigia, carrego no botão do elevador e chego à porta do recobro. esperei e esperei que aparecesse alguém. preparei um discurso sério e irrecusável e finalmente apareceu a vítima: a enfermeira do recobro. olhe eu sou gémea da Teresa que teve agora um bébe e gostava mesmo de a ver. acho que reforcei o gémea com dois tons acima do normal e três tempos de pausa entre sílabas, sabia ser esse o meu principal argumento. e foi aí que entrei e as vi pela primeira vez, mãe e filha. conversámos, agradecemos, rimos e ficámos em silêncio. reconheci a alegria no sofrimento - diferente de tudo aquilo que alguma vez tinha presenciado.

durante essa semana, não consegui trabalhar. a minha cabeça estava lá, a ponto do L dizer que devia existir uma licença para tias! continuo assim e qualquer desculpa é boa para passar lá em casa a dizer olá, desculpem tinha mesmo que trazer estas faturas à Teresa..

a minha Teresa tem uma minha-Helena. e aquele bocadinho dela que eu quero que seja meu, passa amanhã a ser: batiza-se às 18h30 e vou ser a madrinha daquela miúda querida, que já adorava antes sequer de saber que vinha a caminho :)

elas andam à solta.







voam para a direita, correm para a esquerda. escondem-se. são manhosas, tornam-se difíceis de interpretar. gritam que estás a crescer, entraste numa nova fase e tens um novo ponto rebuçado. insistem que já não precisas disto, porque este isto só aparece quando estás fora desse ponto, fora de equilíbrio. tento não lhes dar razão, pouso os dez senhores no teclado e tento começar, como comecei agora. e sai zero, sai menos dois. há tanto para dizer, mas esse tanto anda de braço dado com um sentimento de normalidade difícil de arrancar. já sei o problema: larguei o 8 e abandonei o 80 e cheguei ao perfeito 44. e um blog destes faz-se nos extremos, nunca no meio. no meio, neste caso, não está a virtude. no meio fala-se de acontecimentos, não de sentimentos. no meio discute-se política, saúde e bem-estar. no meio sento o rabo no degrau e adormeço. não adormecemos todos?

terça-feira, 1 de abril de 2014

pressas

- Estou? Boa tarde, estou a ligar para a Nininha?
- Sim, é a própria.
- Ah, boa tarde! Soube que faz alianças lindas, e mais baratas porque não põe a marca do ouro, mesmo sendo ouro verdadeiro.. (espera de 5 segundos para a ouvir confirmar a minha teoria).
- Sim, é isso mesmo!
- Ah, fantástico (um dia devias considerar seriamente parar de começar todas as frases por Ah). Olhe eu vou casar-me com ele e gostávamos de marcar um dia para ir ter consigo e tratar das alianças. Quando é que teria disponibilidade, esta semana ou na próxima?
- Só precisa de me ligar antes a avisar que vem, e já agora.. quando se casam?
- (meio a medo, a imaginar controlo de riso do outro lado) Em Agosto! (exclui o detalhe de ser no final de Agosto)
- Ahh já estou a perceber, é como a sua irmã gémea, quer tudo tratado com meses e meses de antecedência.
- (a dizer que sim com a cabeça) pois..
- Então venha daqui a uns meses, que eu cá a espero!

É só, mas só, mais um to-do-not-done.

coisas da vida

Ela: "Se não passas o ano, não te dou o iphone!"

E percebi que era o mote de regresso, só mesmo para vir dizer isto. Porque me chocou perceber que as coisas que no meu tempo (sempre quis poder dizer 'o meu tempo', porque é uma forma de dizer que vivi já num melhor tempo do que o atual) eram óbvias, e mais do que uma obrigação, são agora motivo de júbilo mais oferta de iphone. Os miúdos ficam estragados e daqui a uns anos, quando quiserem desistir da escola, os paizinhos dão voltas à cabeça a ver onde erraram..

Eu: "Cuidado, P, que daqui a um ano o seu filho pede-lhe uma mota."

Ela: "Isso já o Pai lhe deu. É esse o problema dos pais divorciados, tentamos comprar os nossos filhos Ana.."

PS: O miúdo tem 11 anos.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

DIÁRIO DE VIAGEM



Já foi há algum tempo e voltei a lembrar-me. Não especificamente dos sítios que conheci, das caras que vi ou do trabalho que desenvolvi. Pensei no que aprendi (vão parar aqui as rimas, prometo). Quando voltei da Índia, no primeiro ano em que lá estive, voltei diferente. Na minha cabeça, apesar de ir rodeada de gente de mil e sete países, ia sozinha, a solo, by me. Disse sempre, mas sempre, a quem me quisesse ouvir, que ia fazer voluntariado e contactar com uma nova cultura. Nunca disse aquilo que primariamente me fazia meter-me num voo de 10 horas de viagem e aterrar num sítio húmido para xuxu, sujo que dói e para lá de Bagdad

A verdade é que, uns meses antes de ter tomado a decisão, apercebi-me de que precisava de me afastar para descobrir uns dois ou três aspetos da minha personalidade, que já referi aqui ter-se formado tarde e a más horas, em parte por ter crescido com uma irmã gémea, o lado menos bom do melhor lado da minha vida, dado que essa gémea é sem sombra de dúvida a pessoa mais importante que tenho cá em baixo, até ao dia em que o meu querido futuro marido tomar o seu lugar. Entrei no aeroporto, pronta a passar dois meses do meu Verão do outro lado do Mundo. Tinha 60 dias para perceber a lógica humana, num país em que se não negoceias, não tens hipótese, onde tens que estar sempre atenta ou em dois tempos tiram-te a carteira, a máquina fotográfica e a vida. Num país onde há uma simplicidade de criança em todos os Homens acima dos 50 anos e uma desconfiança própria em todos os que estão abaixo disso. Num país onde dormes por cima do BI, acorrentada a malas e calçada para o caso de teres que fugir a meio do sono.

Findos os 60 dias, embarquei de volta. O primeiro choque foi a chegada a Londres, perceber que tinha coisas a mais: luz a mais, gadgets a mais, proximidades a mais. Saudades a mais, memórias a mais e vontades a mais. Aterrei em Lisboa e ao fim de uma semana ela disse-me que não me reconhecia: tinha deixado uma certa imaturidade em terras indianas, tinha deixado essa querideza que me era própria. Já não era aquela miúda sempre a rir, sempre solícita, sempre a desfazer-se em realização de vontades de terceiros. Voltava de nariz empinado, semi-arrogante e independente. E ninguém percebia como podia ser essa a mudança depois de 60 dias a ajudar quilómetros de miúdos de rua. Não era estranho; durante esses dois meses percebi como se ajuda realmente as pessoas, de uma forma pragmática e sem pieguices. E percebi que quando se confunde um tipo de ajuda com outro, existe muita gente pronta a aproveitar essa boa vontade, sob uma máscara de favores disparatada. Passamos por parvos e ninguém nos avisa.

Durante a última semana precisei urgentemente de recuperar o meu diário de viagem para me relembrar de tudo isto, um conhecimento que arriscava ficar adormecido. Acordei com três baldes de água fria e abri o diário. Peguei na caneta e acrescentei duas linhas aos parágrafos que lá tinha escrito: às vezes não ter paciência não é necessariamente falta de caridade. Pode ser que existam simplesmente demasiadas razões para o fazer. E muitas vezes, mais do que parece, as pessoas precisam é de atenção a menos e mundo a mais.

P.S. Amanhã prometo vir aqui retirar tudo o que disse.

"ENTÃO NOBIA?!"

E depois desta entrada triunfal no open space, espero e desespero que ela me aprove os 30 dias de honey moon que pretendo pedir-lhe já na próxima segunda-feira.

Querida América do Sul, vemo-nos em Setembro 
de mochila às costas e sob uma nova condição!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

tinha que dizer

passou um mês desde que um sim mudou duas vidas. não querendo fugir (já) para a pieguice que me anda a encher as medidas nestes últimos tempos, foi um mês fantástico. é como se a natureza ficasse igual, mas mudasse tudo na forma, e foi no exato segundo a seguir não foi? as ansiedades travaram a fundo, o tempo ganhou horas e de repente tudo é claro, simples e bom. há uma nova certeza, uma nova confiança. já não precisamos de contar os minutos para o fim de um dia que, de tão certo, é sempre incerto, e temos simplesmente que aproveitar os minutos que nos são dados, como um enorme presente que nenhum dos dois merece. e depois vêm as vontades e as tentações - quando quero muito muito uma coisa, quero que o tempo que me separa dela passe a voar (regret comes afterwards). e acredito que para as alminhas com uma inteligência superior, o desfecho seja diferente mas conheço-me demasiado bem para saber que me falta pedalar muito para alcançar esse state of mind: quero tudo para ontem e quero tudo a voar. era lindo se fosse eu a escolher a melhor forma do Mundo girar.. 

a fotógrafa está confirmada e foi a primeira coisa que quis garantir. escolhemos a Inês Subtil, Subtilography, que me parece a melhor fotógrafa do século, com uma capacidade fora de série para captar não só os momentos, mas as luzes, as cores e a atmosfera. note to self: sou pior que os da EMELga, só descansando quando a queridíssima Inês não teve outra hipótese senão deixar o casalinho que estava em standby e aceitar o casalinho-cuja-noiva-lhe-atulhou-a-mailbox! o DJ está confirmado, Ricardo Reis Pinto que faz música para crianças mas que é uma bomba a cantar ao vivo e acumula a função de DJ. um dois em um que não quis desperdiçar, depois de o ter ouvido na boda de Setembro. este não chateámos muito, até porque foi o querido B a tratar tudo com ele. já me conheces.. o vídeo foi o que levantou mais dúvidas, achas que tenhamos vídeo, é mais um extra e secalhar passamos sem isto.. achámos que não, ou melhor achei, e contratámos o Vasco Vieira para que, um dia, os nossos filhos possam ver uma versão de how i met your mother e rir à gargalhada com o vestido old fashioned da mãe. depois ficam sem comer bolachas durante uma semana mas isso é um pormenor. 

e por falar no vestido! dei-me literalmente três horas para veni, vidi, vici na tentativa de provar a mim própria que isto não é o filme que pintam e que keeping it simple é sempre a solução certa a adotar. e como queria tudo, mas tudo, enfiado num só vestido de casamento, o simples ficou com o papel secundário e a salada de frutas avançou, enviar-lhes mensagens a dizer que estava fechado e adormecer descansada. o problema foi o dia seguinte, em que percebi que o mix perfeito era afinal um verdadeiro carnaval do Rio e dei-me mais uma semana para pensar no assunto. até que decidi arriscar: farei metade do meu vestido e a costureira faz o resto, porque é tão pessoal que não quero abdicar a 100%. terei que dedicar umas boas horas de costura ao mesmo, mas no final, quando já tiver passado o óleo de fígado de bacalhau que vão ser as horas de trabalho, vai parecer-me o vestido mais bonito que já vi. a decoração, a tenda e a iluminação, imprescindíveis para quem decide casar em casa como é o meu caso, também já estão asseguradas e bem asseguradas. um dia digo quem é a fornecedora, mas como ainda estamos em negociações prefiro não me atirar já para fora de pé.

faltam 191 dias para o nosso casamento e falta ainda tudo para trabalhar, a começar nos dois, que esta nova fase exige novas conversas a dois, nova discussão de ideias e novos livros de cabeceira. ouve-se por aqui e por ali pessoas muito nervosas com tudo o que falta e outras a apregoar já terem tudo tratado - estamos a meio (deste) caminho, thank God. e está tudo bem, tudo muito bem. porque como dizia o Warren Buffett: só quando a maré baixa é que sabemos quem nada sem calções.

ainda bem que há dias de chuva

para dar valor a estes dias de sol

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

quem é que disse

que chocolate branco não é chocolate?

note to self

Para as dúvidas dos outros, as nossas certezas.
Para as nossas dúvidas, as certezas de Deus.

Segundo a bula (obrigada R!), estas duas frases são o remédio que vais usar sempre que ouvires que estão a dar esse passo demasiado cedo, que vais perder o melhor da vida e que ainda tinhas tantos projetos únicos para fazer como solteira. Que há uma carreira profissional que perde fôlego, que deves namorar muitos anos já casada, sem crianças; essas virão um dia, com uma estabilidade que implica o carro, o gato (!), e o loft com vista rio. E claro, como não podia faltar, que se conhecem pouco um ao outro.

Nas contraindicações da bula estará aquilo que te vai apetecer responder, se não usares freio: que ninguém pediu opinião, que pela sociedade atual este passo era dado com uns 90 caquéticos anos de vida e já "sem nada a perder" e que a vida tem muito mais piada com uma pitada de arriscanço e outra de confiança em Quem sabe mais - muito mais. E quanto ao argumento do conhecem-se pouco, sorri e acena que sim e que ainda bem. Estranho seria conheceres o B como se tivessem convivido juntos toda uma vida - seria provavelmente teu irmão e o cenário casamento não se colocaria. Conheces precisamente aquilo que precisas, para saber que é este o homem que queres ao teu lado para sempre, e a quem queres ajudar a ser um homem melhor todos os dias da tua vida. Exatamente como ele fará contigo. Tinto.

E no final, quando te apetecer dizer isto que vem a seguir, cala-te. A intimidade é algo demasiado importante para distribuir por quem não lhe dá o devido valor. Deixa só escrito nestes sete degraus, onde ninguém nos ouve nem paga para ler: a forma como decidiste viver estes meses fez com que o conhecesses melhor do que muitos casais se conhecem ao fim de anos e anos de namoro. A entrega foi gradual, porque fugiste dos saltos em comprimento. Viver juntos viverão um dia, casados; viver numa relação como casados, viverão um dia, casados. Amor e uma cabana é lindo, mas costuma ter demasiada mosquitada a sobrevoar o terreno. E quanto à criançada, basta olhar para fotografias para ver como a moda passa rápido e o que é que eram aquelas calças à boca de sino e cabelo comprido que aquele senhor usava?! Porque daqui a muitos anos, aquilo que é moda agora - a mega casa, o kit de sonho e o carro descapotável - estarão obsoletos. Já os filhos, esses estarão para as curvas, a trazer anos e anos de alegria e preenchimento a toda uma família. Sejam eles zero, dois ou duzentos.

E no fim agradeces essa caraterística que te foi dada, uma verdadeira boia de salvação: que ouves pouco as opiniões alheias ao teu núcleo duro, principalmente quando pressentes que te levarão a um beco sem saída. E deixas que a alegria que levas na alma fale por si, sem precisares de convencer ninguém ali em cima na plateia D.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

92.4


recebi mensagem delas ontem a perguntar a que horas tinha reuniões, queridas a minha primeira reunião começa às onze. eram nove da manhã quando o meu telemóvel começou a gritar por todo o lado, ele era whatsapp, ele eram mensagens, ele era alegria por ser sexta-feira e dia de ir para Viseu. e dizia-me liga a RFM até à tua reunião e se fores ao W, levas o telemóvel contigo e com phones postos. assim fiz: meti-me em dancing-mood até chegar ao trabalho e só entrei no parque de estacionamento quando garanti que tinha começado uma nova música e que teria tempo para perder rede, estacionar, subir ao 8º andar, ligar o computador e sintonizar-me novamente na RFM. corri, corri e quem me viu terá pensado esta quer mesmo ir de fim-de-semana. Sintonizei-me novamente e afinal era na mega, porque sempre foi com a mega que fizemos viagens, saímos à noite e andámos no smartie.

foi às 10:58h. a locutora da rádio, que eu passei a adorar mesmo sem conhecer, disse e agora, um pedido especial: da T. e da M., um grande beijinho para a amiga Ana que está noiva há uma semana! Hey Brother a tocar! eu estava no open space, e comecei a rir desenfreadamente, enquanto eles os três olhavam para mim como burro para palácio, sem perceber o que se estava a passar. logo a seguir passei à parte de disfrutar, porque o importante é disfrutar com um deles diz, e esta nossa música, a música das três que muda de semana a semana, soube-me como a última bolacha do pacote. depois, quando a euforia assentou, expliquei-lhes. e contei-lhes também que há uma semana, acordei numa nova condição: a de noiva do Bernardo e sua futura mulher. e que nesse momento me tocaram à porta de casa e eu, ainda meio ensonada, fui abrir, E: quem é? R: Polícia. E: Polícia?! Mas o que é que se passa?? R: Florista menina, florista! E: Mas eu não pedi flores.. (lol) R: Mas enviaram-lhe flores menina. É a Ana? E: Sim, sou.. acho que sou (a acordar, há desculpa). Vou abrir. e quando o vejo a aparecer, um senhor florista que eu pensava já não existir, trazia um ramo lindo com três das flores preferidas da T. e com uma mensagem de um “Anónimo”.

era delas, que adivinharam que ficaria noiva nessa noite e que no dia seguinte adoraria receber flores! minhas queridas madrinhas, podia ter-vos escolhido melhor? :)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

o melhor do meu dia

(ao telefone)
M: olha que o teu afilhado prepara-se para ter um papel muito ativo no teu casamento, já que no outro dia, quando lhe contei, me disse
A: oh mãe e posso ser eu a levar as alianças à tia Ana e ao tio Bernardo no dia do casamento?

Quando soube, estive a ponto de ir a correr do Parque das Nações ao Estoril, encher aquele miúdo de beijos até ficar enjoado e explicar-lhe que apesar de já ser crescido e ter muitos anos de vida, ar de malandrão e muito pouco juízo (graças a Deus) e de antes dele estarem na lista outros sobrinhos mais pequeninos, certinhos e com ar de anjinhos de capela, vai ser ele o escolhido.

E depois de esperar um minuto, enquanto ele cora e olha para outro-lado-não-nos-olhos e ri com vergonha, perguntar-lhe quer? enquanto o vejo a acenar que sim, cara duplamente rosada e com o importante detalhe de estar, quase de certeza, a roer um dedo da mão direita.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

BRIDES DIARY #221

em preparação de eventos, vem ao de cima a personalidade de cada um, tão crua que dói. como em tudo, quero despachar os macros e focar-me nos micros. quero ter tudo alocado, o que seja DJ, espaço, fotógrafo e costureira para depois nos entretermos com a beleza dos missais, as ideias para os nomes das mesas, a fantástica lua-de-mel-que-seria-fantástica-mesmo-que-fosse-ali-em-Cuba-do-Alentejo e na escolha das madrinhas e padrinhos.

a 221 dias do WDAY, e três dias depois de termos ficado noivos (só contam os dias úteis, que ao fim-de-semana não há quem nos responda a emails) já riscámos na checklist os 2 de 4 Sacerdotes, a fotógrafa, o DJ e a costureira. cada um tem 50 histórias para contar e como amanhã prevejo um dia mais calmo, vou deixar o suspense até lá :)



e hoje, conheço-te um bocadinho melhor meu amor. vejo como andas a pôr mãos à obra, como ligas para aqui e para ali e como estás tudo menos parado. e reconheço-te a paciência para as minhas correrias e para o querer tudo para ontem. 

hoje mais e melhor do que ontem. 
amanhã mais e melhor do que hoje.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

e dos que não se esquecem


não sei se foi o dia mais feliz da minha vida. não sei se alguma vez me lembrarei de tudo o que dissemos um ao outro. não sei se alguma vez tive uma certeza tão grande. e também não sei se os meus pés já voltaram a tocar no chão.

dizem que um ano é o horizonte temporal perfeito para ter como medida. daqui a um ano, olharás para o dia de hoje e sorrirás. não tanto pela piada da coisa, mas porque tudo nesta vida é relativo e ganha ou perde dimensão com o passar das horas, dos dias e dos anos. e é assim que hoje olho para trás: há um ano, o meu emprego estava longíssimo de me parecer o melhor sítio do mundo para trabalhar. há um ano, tentava convencer-me de que o coração é convencível. e que a razão podia bem passar para os lugares baratos do cinema, fazia pouco mais do que desconcertar um puzzle que eu, de olhos fechados, tentava construir. as peças não encaixavam e eu não percebia porquê. há um ano estavam cá mais pessoas, a nossa família era maior. há um ano chovia mais, a todos os níveis.

passados 365 dias, tenho o tal sorriso na cara. o meu emprego é o melhor sítio do mundo para trabalhar. deixei de precisar de convencer alguém e o conselho da mãe de repente passou a fazer todo o sentido essa sensação de invasão de espaço que agora sente, um dia acabará; porque só acaba quando aparece alguém que não está a mais, porque é parte do seu próprio espaço, como se tivesse nascido lá, desde sempre. alma e coração estão convencidos e aplaudem, porque voltaram a poder andar de mãos dadas sem conflitos de casal. passado um ano, o puzzle encaixa e reencaixa e como é que é possível que esta peça, a que me faltava, tenha andado 24 anos meus e 31 deles perdida atrás de um qualquer canto deste planeta? passado um ano, vêm aí bebés delas e a família vai crescer. e passados 365 dias, chove ainda mais, mas por motivos diferentes.

há um ano, não me passaria pela agenda que me voltaria a apaixonar por um homem como este, dadas as circunstâncias em que estávamos, dado aquilo que um para o outro representávamos. foram sete meses intensos, foram quase oito. foram 230 dias de ritmo TGV, de conhecer cada vez mais, de querer cada vez mais, de amar cada vez mais. de deixar de lado os pormenores e trazer ao de cima os pormaiores. de ganhar certezas e de dar um passo-em-verdadeiro. no dia 17 de janeiro, dia dos anos dele, percorremos vários quilómetros no meio de uma noite gelada e chegámos ao sítio onde tudo começou (?). e ali, à frente de quem nos guia desde sempre, confirmámos que nascemos um para o outro. e contámos a Nossa Senhora o nosso segredo de Fátima: que estamos noivos e casamos no dia 30 de agosto! e agradecemos, agradecemos e voltámos a agradecer: eu a vida dele, ele a minha.

não sei se os meus pés já voltaram a tocar no chão. porque ainda me sinto sete degraus acima dele.
<3

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

dos que valem a pena


e depois, como ainda existiam uns minutos livres, deu tempo também para isto.

Entrevistador: Tem fé? Manuel Forjaz: A minha fé é absoluta, plástica, material. Deixa-me dormir tranquilo todos os dias - rezo todos os dias. Vou à missa e confesso-me. Li São Tomás de Aquino, Descartes e o Pierre de Chardin, que racionalizaram a existência de Deus. Mas não é por aí. Eu sento-me com Jesus Cristo à noite, na minha cama, e conversamos um com o outro. A fé dá-me duas coisas...Uma absoluta ausência do medo da morte e a certeza absoluta da vida eterna. Isso dá muita paz. Resolve uma parte muito importante do meu problema.

e o meu tempo chegou ao fim, dez minutos de intervalo e de imensíssima qualidade
to do's: ver se imensíssima existe em algum dicionário do globo ou se foi só mais uma calinada

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

MAN ON FIRE

entrei na sala, eram vinte. 

vinte vezes dois dá quarenta. eram quarenta olhinhos ali, especados, à espera que eu lhes transmitisse um qualquer tipo de mensagem de esperança para aquele que era o seu primeiro dia de trabalho nesta minha empresa. contei histórias, espalhei-me dezoito vezes enquanto a dos recursos humanos me fitava e rezei para que não existissem perguntas. mas havia, claro. aquele claro. e de quem? da dos recursos humanos. obrigada lindinha, acredito que querias mesmo mesmo mesmo saber como estará o mercado fixo daqui a vinte anos. pois bem: se eu conseguisse adivinhar, não precisava de trabalhar. e saí, pé ante pé, com a firme promessa de não voltar a falar em público enquanto me lembrar dos 70º que vivi em dez minutos, que eram supostos ser trinta.

Post title

"Ele não mudou o método. O problema fomos nós, que o mudámos. E pensamos que já não precisamos que aconteça isto. Mudámos nós o método e em vez de estarmos atentos áquilo que acontece, comentamos aquilo que acontece! Muito diferente."

Obrigada, TC

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

lasciate ogne speranza, voi ch'entrate

andava numa tentativa de ser prendada nas tarefas domésticas. a ideia de fazer uma máquina de roupa e tingir tudo, de fazer um prato para dez amigos e pôr tudo a tossir de extra-extra-sal ou de aspirar uma sala à moda dos sete anões - tudo para baixo do tapete - tiravam-lhe o sono. 

passado muito tempo, tempo a mais, decidiu que era altura de pôr um pé fora do pesadelo e ver se estava frio. começou, dia após dia, a testar-se. num dia aspirou a casa toda e ficou radiante por perceber que só (!) tinha demorado quatro horas. mas estava um brinco e o ótimo é inimigo do bom, tentava convencer-se. no outro dia, arriscou um risotto de cogumelos com espargos e salsa. no dia seguinte, fez uma sopa e uma máquina de roupa. branca, que a preta teria que esperar. e depois lançou-se em lombos de salmão com mostarda e pimenta preta, embrulhados em papel de prata no forno e acompanhados com arroz de grelos. sentia-se radiante nestes primeiros passos, mas desvalorizava tudo o que fossem elogios da parte dele. porque apesar de todos os dias serem diferentes, havia uma coisa que se mantinha: fazia tudo com ar de quem não está a adorar aquilo, de quem até preferia estar num qualquer outro sítio. tinha alergia só de pensar que ele descobriria que ela até gostava daquilo, que não fazia por frete e que as tarefas domésticas chegavam mesmo a ser uma das melhores formas de descompressão de um dia de trabalho. começava a cortar as cebolas e as lágrimas faziam-na deixar para trás as várias reuniões. continuava para dedicar atenção ao arroz e a chuva que tinha apanhado até ao metro ficava esquecida. as ideias voavam para outro patamar e perdia-se na organização minuciosa dos detalhes realmente importantes a guardar ao final de cada dia.

mas os 24 dela para os 30 dele faziam com que não houvesse nada, mas nada, que ele não conseguisse decifrar. e hoje, quando chegou a casa dele e disse que pronto-está-bem-eu-faço-o-jantar-para-vocês-os-três, tinha a cebola cortada, os camarões descascados e o alho pronto. olhou para todo o aparato e riu-se. os 30 dele já há muito tinham percebido que os 24 dela estavam a adorar tudo o que fossem as coisas de casa.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Ao Departamento de Marketing e Comunicação da Nicola

Boa tarde,

O meu nome é Ana Ulrich e sou vossa consumidora desde que me lembro de beber café. Tenho 24 anos e por isso acredito que vos sigo desde há pelo menos 10 anos. A marca Nicola é para mim tão inspiradora como o primeiro café que tomo pela manhã e tenho orgulho naquilo que vi alcançarem nos últimos anos, fazendo face a tantas ofertas concorrentes que surgem no mercado e mantendo a qualidade que sempre vos caracterizou.

É por vos admirar que me desiludi na vossa última campanha. Penso que os pacotes de açúcar são o complemento ideal para um café, principalmente quando, à semelhança do mesmo, nos enchem de inspiração e boa disposição. Reconheço que foi nessa tentativa que a Nicola lançou a campanha dos Apaixonados, procurando equiparar a Campanha de Hoje é o Dia e Hoje é a Noite, que me parecem ser das campanhas mais bem sucedidas na história dos cafés em Portugal. E a ideia parece-me muito bem conseguida, diria mesmo vencedora, não fosse o facto dos “apaixonados” das imagens aparecerem sempre, sempre, sem roupa. Parece-me despropositado que pacotes de açúcar sobre um casal apaixonado tenha que ter o dito casal despido, como se disso dependesse a paixão. É precisamente a intimidade pessoal que permite um casal estar apaixonado de uma forma saudável, olhando ao que realmente interessa e passando por cima daquilo que é uma imagem não representativa do todo da pessoa humana.

E é por acreditar que conseguirão superar as minhas expectativas, que vos envio hoje este email.

Obrigada,
Ana Ulrich

sent to: consumidor@nutricafes.pt

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

you have mail

ela mandou-me um blog e eu devorei-o.
e pela primeira vez, mas mesmo pela primeira vez, aconteceu uma coisa.
vi um blog de fotografias de moda e selfies cheio de estilo e fasquia alta.
a miúda não está nem despida, nem cheesy, nem num less-is-more mood.

vejam, não se vão arrepender.

se o arrependimento mata

eu devo ter sete vidas. arrependo-me quase sempre de comentar artigos de jornais portugueses. dá trabalho, obriga-me a fazer o login, interromper o que estava a fazer. tudo por achar que vale a pena expressar a minha opinião.

mas esta senhora, a minha opinião entenda-se, não é programada para alegrar mundos e fundos. é a minha opinião. passados poucos segundos já tenho a caixa de correio atulhada com respostas que incluem palavreado menos próprio, baixo nível e muito tempo disponível do outro lado da ciberbolha, onde quem esperneia e puxa mais cabelos, é mulher. e arrependo-me cem vezes e reforço que não volto, não volto, a ter o trabalho de escrever nada. fico-me pelo blog onde não recebo metade dos comentários porque são 130 visitas por dia :)

no outro dia

falava-se sobre uma mulher de virtudes, uma boa mulher. passado um tempo, muito à portuguesa e com o mote do “aqui há espiga” alguém se saiu com esta sim, mas é uma pessoa extremamente preocupada com a imagem. fiquei a pensar nisto.. e aqui ficam as minhas conclusões, que valem o que valem, que é pouco, eu sei. mas convencem-me e até prova em contrário, fico com elas guardadas no bolso, ao jeito de Braga da Cruz:

"As notas que se seguem pretendem ser, acima de tudo, contributo para uma discussão. Sem serem posições de princípio, não são ainda também ponto de chegada, mas apenas hipóteses de meio caminho andado, que o aprofundamento futuro poderá confirmar ou alterar."


preocupação com a imagem. andando para trás: eu gosto de pessoas bem arranjadas, gosto de pessoas cuidadas e gosto de pessoas bonitas. e também gosto de pessoas mal arranjadas, de pessoas não cuidadas e acredito que não existem pessoas feias. tenho amigas lindas, daquelas de revista sabem? daquelas tipo Hola e TELVA. tenho primas lindas, tenho irmãs, de sangue e não só, carregadas de pinta e todos os dias no metro me cruzo com pessoas incrivelmente bonitas. sim, minha querida freira velhinha, estou a pensar precisamente em si. muitas destas não fazem rigorosamente nada para aparecer bem, são-no, simplesmente. são das que já acordam de cara lavada, cabelo penteado e roupa entalada. 

mas depois há as outras, as que se vê que passaram algum tempo em estágio e que perderam tempo. perderam? sim, eu já pensei assim. já cheguei ao ponto de me recusar a pôr um pingo que fosse de maquilhagem na cara, a ser natural. e natural, no meu caso, era a desculpa perfeita para não ter que pensar em estar agradável para os outros. muita calma aos movimentos de proteção da mulher, não estou a dizer que uma mulher ao natural não esteja bonita. mas reconheço um enorme respeito por todas as pessoas que se arranjam sem vaidades, que se mostram cuidadas com o seu corpo.

a ideia só teve pernas para andar na minha cabeça no dia em que me caiu a ficha: andava a arranjar-me para o escritório mas quando chegava o fim-de-semana, metia férias. férias dos saltos altos, férias da maquilhagem e férias de uma tentativa de elegância. o que implicava que, nos cinco dias da semana, as pessoas para quem eu me andava a arranjar fossem a minha diretora e 3 colegas homens. não a minha família, o meu namorado e os meus amigos.

por isso aqui ficam as minhas conclusões: preocupação com a imagem, quando é uma preocupação ordenada e sem perdas de tempo intensivas, é muito bem vinda e sinal de amor aos que convivem comigo. over and out.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

tenho uma nova amiga há 5 dias e já não passo sem ela

mas não por vontade própria. chama-se Ciática e ainda não lhe apanhei o apelido. deve ser prima dos 10kms diários que andava a fazer na fuga das galinhas e não me larga. um preview do que serão os good old 70's.

RITUALS

repete-se desde que me lembro de usar carteira. as coisas, e por coisas entendam-se o mais variado tipo de bugigangas, vão sendo enfiadas para dentro desse espaço, mais ou menos pequeno porque o tamanho é mesmo o que não importa: com jeitinho, desconfio que cabe lá uma hiena dentro. todos os dias, sem qualquer exceção, consigo enriquecê-la mais e mais, deixando-a sem espaço para respirar e a rebentar pelas costuras.

e depois chega o dia D. o dia em que decido que afinal até quero ser arrumada, organizada. e que a partir dali a vida, pelo menos a da carteira, vai ter um final mais feliz. e então perco uma hora, senhoras e senhores, a arrumar tudo, de uma ponta à outra. fica um brinco e leve-leve-leve.

mas há dias em que o dia D não chega, e por já lá ter uma hiena dentro, não cabe mais-nada. foi hoje.. graças a uma bendita greve de metro que me devolveu uma certa nostalgia porque durante as férias de Natal não vivi nenhuma, e fazem falta já que são parte integrante da biografia de todos os maquinistas do Metro de Lisboa, tive que tirar de casa o Smartie, esse carro tão egoísta como jeitoso. ao chegar a um semáforo, e na tentativa de não passar o verde tinto, travei a fundo e eis senão quando a minha carteira dispara em queda livre até ao chão do lugar do morto. o resultado não foi bonito e a quem visse de fora, várias coisas poderiam sugerir o aparato: ou que estava a dar um cocktail de iogurtes naturais, ou que ia abrir uma loja de batons - eram só uns 4, ou que tinha pago as contas do mês dado o rol de faturas, ou então que era simplesmente ca-ó-ti-ca.

assim, o dia D chega obrigatoriamente hoje onde tentarei não perder mais de 10'. e já me conhecendo, daqui a dois dias - um claro otimismo para as poucas horas que isto costuma durar - e depois de pagar alguma coisa, vou arrumar o cartão num qualquer bolso da carteira ao invés do porta-moedas. e abre-se novamente a caixa de pandora, que só deverá ser fechada daqui a sensivelmente 3 semanas. ou antes, se a hiena estiver mais anafada depois dos doces de Natal.

*a imagem tem tudo menos alguma coisa a ver com o post. é só o resultado do arrependimento supremo por não ter comprado, quando o poderia ter feito, esta placa para o meu enchoval. a pregar na parede ao pé da cama, imediatamente em frente ao lado dele

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

DAR A VOLTA



Não tenho facebook e não tenho saudades dele. 
Só em alguns dias, em que filmes como este me 
chegam à caixa de correio - obrigada minha linda 
- e me parece que vale tudo menos não enviar isto
 a meio mundo. 

Este é o meu meio mundo e aqui fica 
a melhor parte do meu dia de hoje.

NEW YEAR'S RESOLUTIONS

. ser pela décima vez, tia Nana
. parar com a brincadeira dos lanches da manhã, ou viras monstro das bolachas
. relembrar-me todos os dias que adoro o que faço e trabalho no melhor sítio do Mundo
. aprender a costurar (1st WS done, só faltam mais 500 porque me pareceu mais difícil do que passar um camelo pelo buraco de uma agulha)
. fazer um fato-de-banho, pelo menos um
. acabar a Anna Karenina que insiste em não passar da página 100 porque não quero, não quero, não quero que acabe. ainda te faltam umas 300 e a Ana Carina terá que dar lugar a outros clássicos tão bons ou melhores
. convencê-lo a irmos para as aulas de dança, tão longe da realidade depois de um comentário bem infeliz no último filme em que o senhor dançava chachacha
. ser mais ativa, pé direito em novos mundos como os da política, família e moda
. deixar para amanhã o que pode ser feito amanhã
. não demorar uma semana a responder a mensagens ou telefonemas. não és a Merkel, graças a Deus e a tua bacia está intacta
. conhecer pessoas, conhecer sítios, chegar mais longe. pessoal&profissional
. ordenhar uma vaca, still
. ir ver a M a Londres, mas ir mesmo
. não pôr os pés em lojas antes dos saldos começarem. querido custo de oportunidade, até pró ano!
. fazer a carrinha pão de forma VW de legos com o A
. fazer um puzzle, de 5.000 peças
. recuperar contacto com o miúdo, o querido miúdo do Bairro do Fim do Mundo que me foi dado como afilhado há tantos anos atrás. onde é que tu andas Paulo?
. saber o nome das ruas de Lisboa, pelo menos mais 20. chega desse ar de estrangiú que não és há 3 anos
. escrever mais cartas, principalmente para Roma with Love
. apanhar mais frio. protetor solar 50 no Verão ou as sardas vão virar epidemia não tarda
. andar ainda menos de carro e ainda mais de metro
. escrever a todos os Deputados do Parlamento a referir a minha indignação pelo facto da T ter que pagar €350 para ter um filho no Hospital e um aborto ser apoiado pelo Estado em 500€ (e viagens pagas no caso de serem mães das ilhas, para elas e seu potencial acompanhante. how cute)
. ir a Madrid com ele, mas desta vez como nós. e mais 10 macacos, que por enquanto não há cá viagens a dois
. escrever à Carris pelo disparate que é a nova campanha do homem à espera de bébe de 7 meses de todos os autocarros
. acordar o meu despertador aos berros, como ele me faz todos os dias. pateta
. ter mais calma, parar mais vezes e respirar fundo antes de falar. sim, exatamente nessas alturas
. ganhar paciência para birras, má-criações e insolências. um dia vais ter disso e a tampa não vai poder saltar
. não sonhar com 2015 nem dissertar 2013. estás em 2014, welcome baby!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ELAS, AS DAS SAUDADES



As miúdas indianas são descomplicadas. Gostam de coisas simples, acessíveis a todos. Gostam de brincar à chuva, gostam de estar com uma ou outra amiga. Gostam de estar na rua, gostam de ver os carros passar. Gostam, adoram, a possibilidade de um dia poderem vir a estudar.

As miúdas indianas são isso mesmo, miúdas. Não são quero-ser-crescida e parecer-5-anos-mais-velha. Não pensam em coisas demasiado cedo para a sua idade. As miúdas indianas são miúdas com uma parte saudável de marias-rapaz. Uma boa parte saudável, pelo menos. As miúdas indianas não usam maquilhagem, não preparam a toillete, não arranjam as sobrancelhas.

As miúdas indianas são descomplicadas. Sentam-se no chão sem medo de sujar o sari, brincam na lama e cozinham em tachos lavados com terra. Estão sempre contentes, estão sempre radiantes. As miúdas indianas não são piegas e vivem para o que faz correr, sem cansar.

As miúdas indianas são como eu gostava de ser.

JULY13

Meu amor, hoje almoçámos juntos, já não fazíamos isto faz tempo. 

Tanto tempo é uma semana mas tu já me começas a conhecer: sabes que sou, de origem, exagerada. Fui ter contigo, meio a medo. A noite de ontem não acabou como queríamos, deixei vir ao de cima o meu feitizinho, que insisto em chamar-lhe assim para parecer querido, quase positivo. Mas não, sei que é só uma alcunha. O nome próprio, esse, é Mau Feitio. Estávamos os dois de rastos, estes primeiros meses foram exigentes. Queremos passar horas e horas à conversa e isso reflete-se, naturalmente, nas horas de sono. Queremos conhecer-nos e acima de tudo, não queremos saltar etapas, sem que isso implique aproveitar cada momento como se fosse único. Porque o é. Almoçámos juntos e puxaste por mim – querias perceber o que se tinha passado, querias conhecer as profundezas deste humor, conhecer a razão para aquela sensação de tapete a fugir debaixo dos pés. Não era eu. E não eras tu. Não eramos nós. Falámos, disseste que não estavas convencido mas que ias fingir acreditar. E depois eu comecei a querer atenção, afinal de contas sou mulher. Era a atenção que nos tinha faltado no dia anterior. E comecei a perguntar-te porque não tinha sabido nada de ti. Eram saudades tuas, meu amor, eram tudo saudades. E quando ias a responder qualquer coisa que te veio à cabeça naquele momento, paraste, nessa arte incrível que os homens têm de passar por cima daquilo que uma mulher espera, naquele momento. Paraste, riste e desarmaste-me. E depois, devagar devagarinho, aproximaste a tua cadeira da minha e deste-me um abraço como se me fosses perder. Como se o que me estivesse a faltar, naquele momento, fosse o meu namorado-amigo-pai. E foi suficiente. Voltámos a ser nós, de corpo e alma. Eras tu e eu e éramos nós os dois. Fui buscar os nossos cafés e enquanto esperava, chegaste devagar, devagarinho, pegaste no pau de madeira com que prendo o cabelo e escreveste com ele na minha mão. Bastaram as duas primeiras letras para saber o que ias dizer: eu também. Acabámos a ver tecidos para forrar o sofá “da nossa futura casa” dizias tu, enquanto eu corava de uma ponta à outra. Não nos largámos, corremos o Vidal e encontrámos o tecido certo, depois de alguma inferência qualidade preço, que fez do tecido de 16 euros uma não escolha vs. o de 26 – duraria mais tempo e os nossos filhos, se Deus quiser, poderiam, um dia, saltar em cima dele sem o rasgar. Festejámos com a desculpa de ter a história do tecido resolvida, história que já durava há um mês, e a senhora da loja aproximou-se. “Desculpe, estávamos a festejar! Sabe o que é, eu pedia-a em casamento hoje de manhã e viemos festejar..” enquanto eu dizia que não com a cabeça, perdida de riso. 

Voltei para o trabalho, com a sensação de te conhecer melhor agora que há umas horas atrás. Com a sensação de querer isto amanhã e depois e depois. Com a sensação de querer ser, para sempre, tua.

conflito interno

leio blogs cheios de sabedoria. daqueles que comunicam verdadeiramente alguma coisa, daqueles que me deixam a pensar. quase a fazer um ano de casa, desta casa, penso nas mensagens que passo aqui. são pouco altruístas, i know. deixam um sentimento ao nível do menino da lágrima, pouco mais.

a verdade é que eu gosto disto, gosto mesmo. escrever ajuda-me a passar para o papel coisas que estão na cabeça a marinar, organizar ideias. clarificar as loucuras momentâneas e ganhar a possibilidade de relembrar, com um simples click. dou erros, dou mil e duzentos erros. agradeço e volto a agradecer às queridas leitoras que me chamam à atenção e vou abanando a cabeça, pensando no disparate dessas disléxias. e por ser perfecionista, acho que este blog tem que ser perfeito, tem que ser impecável e estar cheio de mensagens de Natal, durante todo o ano.

passado um ano, sei que quero continuar. tenho muitas e boas razões para o fazer. preciso de me organizar, dedicar mais tempo. voltar a escrever no metro, no carro, na moleskine. voltar a parar e a pensar na vida que corre e como a quero viver melhor. é isso que me faz escrever, a vontade de viver. lindo, hein? xô, menino da lágrima!

muito do que não escrevo aqui, cai no foro pessoal e não gosto de trazer outras pessoas sem autorização e gosto ainda menos de pedir essa autorização. mas o que sou hoje, a forma como estou nos dias, depende de vários fatores pessoais. um desses fatores tem a ver com estar apaixonada pelo mesmo homem, há muitos meses. reconhecer nele e em nós um projeto mais altruísta que este blog e que a maior parte das coisas em que me meti em 24 anos. não sei como vamos estar daqui a muitos anos, se chegaremos a ficar velhinhos juntos, como hoje queremos.

fazem falta namoros puros, bem vividos. não são fáceis, temos uma natureza do do it now or never, carpe diem e por aí fora. não são fáceis mas são altamente recompensadores, não só a longo prazo mas acima de tudo a curtíssimo prazo. vou escrever sobre isto, mas ainda não. e por isso, rezando para que ele não veja nada ou finja que não viu, ou vou corar até Bagdad, abro hoje uma nova página, começando com a publicação de uma carta que lhe escrevi há muitos meses atrás. nunca lhe cheguei a mandar.

não sei como vamos estar daqui a muitos anos, se chegaremos a ficar velhinhos juntos, como hoje queremos. não sei. mas sei que nessa altura, vou querer lembrar-me destes tempos de conhecimento a 300km/h. e acho que ainda terei estes sete degraus para me sentar e recuperar cartas perdidas no tempo.