vivemos uma vida inteira debaixo do mesmo teto, com os mesmos amigos e a falar a mesma língua. nos primeiros 10 anos de vida fomos literalmente uma só, porque olhando para fotografias não consigo perceber se sou eu, se ela. os seguintes 10 foram os anos de divergência - era preciso, pensávamos. afinal, só assim desenvolveríamos uma personalidade e mostraríamos ao mundo que uma eram agora duas: duas pessoas, duas almas e dois corações. tão parecidas como diferentes, trilhámos caminhos opostos, procurámos soluções alternativas, chamámos por diferentes ídolos.
mas, inevitavelmente, a mesma estrutura, os mesmos quereres e as mesmas raízes, levaram-nos a um caminho semelhante. e desta vez, quando nos voltámos a encontrar, estávamos diferentes: ela mais ela, eu mais eu. parecidas na forma de estar, diferentes na forma de ser.
e foi ontem. combinámos ponto de encontro lá em casa, às minhas horas de saída - aí perto das nove. eram dez e muito quando meti o primeiro pé dentro de casa. de há uns dias para cá que a vinha ouvindo dizer que tinha um projeto irrecusável para me apresentar e à primeira garfada de alface com alface, começou a falar. já a conheço, pensei, quando a vi abrir a agenda e começar a seguir uma ordem de pontos previamente anotados com uma caligrafia de ler e chorar por mais. aquela organização, pensei. ouvi-a até ao fim, enquanto me deixava convencer por aquele que poderia ser um projeto a duas. paralelamente, aconteceu-me o que acontece a todas as mulheres quando sentem um qualquer desconforto: pensava num outro tema, indiretamente associado a quem naquele momento me falava: que a ordem por ela vivida não era consequência de um mérito adquirido à nascença. não se dava sequer o caso de poder ter ficado com os meus 50% de arrumação quando partilhámos a mesma barriga. não, era resultado de esforço pessoal. um dia, depois o outro, depois o outro. só isso explicava o excel que partilhava com ele onde faziam um minucioso orçamento e definiam propostas de poupança ou despesas futuras. só isso explicava o bom, mas bom, que era entrar naquela sua casa: limpa, arrumada e com ar de lar, dos luminosos e alegres que sempre me invejaram. só isso explicava a carteira arrumada, o ar arrumado e a harmonia de vida.
chegou o momento em que teve que ir embora - afinal a ordem estendia-se também à hora de dormir para garantir que não se cortava no sono - enquanto eu fiquei a pensar naquilo. e naquilo. no projeto, que a seu tempo trarei para aqui e que me tem vindo a convencer mais e mais a cada segundo que passa. mas também naquela ordem, que já me tirara do sério quando vivíamos juntas: era como entrar num quarto que parecia a zara home no momento de abertura de portas - roupas por cores, velas com cheiro a impregnar o ar de cheira bem e tudo com espaço de alocação previamente definido - e passar de seguida para o meu, um quarto de guerra, qual feira da ladra na hora de fecho.
três da manhã. era hora de apagar a luz e ir dormir. o quarto estava agora arrumado em modo brinco e já podia fechar os olhos descansada. as roupas penduradas respiravam alegria e as coisas debaixo da cama já não tinham o estatuto de não-sei-onde-meter-isto-a-não-ser-aqui.
o que fica por dizer: o esforço de me arrastar para fora da cama no dia seguinte. e o perigo que representa a eficácia destas influências.
4 comentários:
Não que tenha alguma coisa para te ensinar, como a T. tem, mas também não me importava de te dar uma alface lá em casa e falar sobre a vida! Queres, queres, queres?
Minha querida T... tão arrumadinha! Bem que podia vir a minha casa arrumar o meu quarto. lol
As maninhas queridas!!!
Quero tanto saber o que é esse projecto...hmmm!!!
Nana, quero! Mas tu nunca podes!! Ru, estou sempre a dizer-lhe o mesmo. O presente de Natal da Teresa para o Lopo no ano passado foi isso mesmo, e eu também quero..
Nana, quero! Mas tu nunca podes!! Ru, estou sempre a dizer-lhe o mesmo. O presente de Natal da Teresa para o Lopo no ano passado foi isso mesmo, e eu também quero..
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