Tanto tempo é uma semana mas tu já me começas a conhecer: sabes que sou, de origem, exagerada. Fui ter contigo, meio a medo. A noite de ontem não acabou como queríamos, deixei vir ao de cima o meu feitizinho, que insisto em chamar-lhe assim para parecer querido, quase positivo. Mas não, sei que é só uma alcunha. O nome próprio, esse, é Mau Feitio. Estávamos os dois de rastos, estes primeiros meses foram exigentes. Queremos passar horas e horas à conversa e isso reflete-se, naturalmente, nas horas de sono. Queremos conhecer-nos e acima de tudo, não queremos saltar etapas, sem que isso implique aproveitar cada momento como se fosse único. Porque o é. Almoçámos juntos e puxaste por mim – querias perceber o que se tinha passado, querias conhecer as profundezas deste humor, conhecer a razão para aquela sensação de tapete a fugir debaixo dos pés. Não era eu. E não eras tu. Não eramos nós. Falámos, disseste que não estavas convencido mas que ias fingir acreditar. E depois eu comecei a querer atenção, afinal de contas sou mulher. Era a atenção que nos tinha faltado no dia anterior. E comecei a perguntar-te porque não tinha sabido nada de ti. Eram saudades tuas, meu amor, eram tudo saudades. E quando ias a responder qualquer coisa que te veio à cabeça naquele momento, paraste, nessa arte incrível que os homens têm de passar por cima daquilo que uma mulher espera, naquele momento. Paraste, riste e desarmaste-me. E depois, devagar devagarinho, aproximaste a tua cadeira da minha e deste-me um abraço como se me fosses perder. Como se o que me estivesse a faltar, naquele momento, fosse o meu namorado-amigo-pai. E foi suficiente. Voltámos a ser nós, de corpo e alma. Eras tu e eu e éramos nós os dois. Fui buscar os nossos cafés e enquanto esperava, chegaste devagar, devagarinho, pegaste no pau de madeira com que prendo o cabelo e escreveste com ele na minha mão. Bastaram as duas primeiras letras para saber o que ias dizer: eu também. Acabámos a ver tecidos para forrar o sofá “da nossa futura casa” dizias tu, enquanto eu corava de uma ponta à outra. Não nos largámos, corremos o Vidal e encontrámos o tecido certo, depois de alguma inferência qualidade preço, que fez do tecido de 16 euros uma não escolha vs. o de 26 – duraria mais tempo e os nossos filhos, se Deus quiser, poderiam, um dia, saltar em cima dele sem o rasgar. Festejámos com a desculpa de ter a história do tecido resolvida, história que já durava há um mês, e a senhora da loja aproximou-se. “Desculpe, estávamos a festejar! Sabe o que é, eu pedia-a em casamento hoje de manhã e viemos festejar..” enquanto eu dizia que não com a cabeça, perdida de riso.
Voltei para o trabalho, com a sensação de te conhecer melhor agora que há umas horas atrás. Com a sensação de querer isto amanhã e depois e depois. Com a sensação de querer ser, para sempre, tua.
8 comentários:
A tia Joana também quer saltar no sofá com os "piquenos"...;)
Tenho tantas saudades da tia Joana!
Sabes aquela sensação de quereres lembrar-te de alguém e ser uma lembrança "sonora"? Sempre que me lembro de ti, oiço uma gargalhada tua, tão típica e tão caraterística. Querida!
lindo!!!
Ana estás noiva? :)
Querida, sim! Ainda não vos tinha dito porque a vocês vos quero ligar :) e vou fazê-lo hoje! Um enorme beijo primaVera
Vi agora o mais recente post. O meu comentário de hoje estava desinformado :) Que grande alegria, Ana! Liga à mesma. Um grande beijinho e parabéns
Vi agora o mais recente post. O meu comentário de hoje estava desinformado :) Que grande alegria, Ana! Liga à mesma. Um grande beijinho e parabéns
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