Já houve tantas. Ir
para a Gulbenkian ao Domingo de manhã de lápis e papel na mão ver como é que os patos passam o
fim de semana e acabar a almoçar por ali, com uma sopa e dois croquetes (que são
os melhores de Lisboa, melhores até que os da barra do Gambrinus). Ir correr
para o rio à noite. Escrever na agenda as coisas mais
importantes que se passaram em cada dia para garantir que daqui a dez anos sei
o dia em que ficámos horas à conversa naquele café, não dando pelas horas
passar. Pintar as unhas depois de qualquer exame como escape total para um
mundo onde não é preciso usar muito a cabeça, só a imaginação. Acordar às cinco
da manhã para estudar porque o estudo rendia o dobro. Estava no
liceu e quem me tirava o sono era a matemática. Deitar-me sem falha às dez
porque com isso ia conseguir crescer mais 10 cm/ano diziam. Lavar o carro pelo
menos uma vez por mês, para não cair no desleixo – durou trinta dias esta. Depois casei-me e
deixei cair por terra as rotinas de solteira que ainda tinha, com um grande botão
de refresh pelo meio. Foi do melhor, sensação "primeiro passo". Fui
deixando passar uns meses e ao fim de sete olho para trás e já voltei a ganhar
tantas outra vez. Ou era o chão da cozinha que tinha que estar imaculado, ou a
cama que nunca podia viver a desculpa do “fica a arejar”, ou a loiça no
escorredor que ficava visualmente feia e tinha que sair dali, ou a roupa por
engomar que tinha que se resolver mal secava. Ou o congelador que
tinha que ter sempre reservas para os dias em que os dois chegávamos tarde a
casa. Ou o excel atualizado com as coisas que habitavam o frigorífico. Tantas, e tão irritantes.
Voltámos de
férias e aterrei em casa como quando voltei de lua-de-mel. Parei ali à entrada
e olhei à volta. Só consegui pensar na sorte que tenho, que temos, em ter uma
casa. Em termos coisas em casa. Em termos uma sala onde podemos receber amigos,
um quarto onde dormir, uma cozinha com tanta coisa para fazer jantares, bolos e
pequenos-almoços. Duas varandas onde podemos ficar à conversa
em tardes mais quentes. Um teto. E isso chega, porque já é tão bom. Escrevo isto para não me
esquecer e não começar já com mil e duzentas rotinas novas que, quando não
vividas com liberdade, a levam por completo. Deixei ficar só uma, porque dizem
que é boa para o bicho lindo que aí vem: a música, calminha, enquanto fazemos o
jantar.
Ontem foi esta: The Same Things, Lauren O'Connell
Marabilha.
8 comentários:
És de rir.... não acredito que tinhas um excel para a comida que estava dentro do frigorífico lololol...
tirei a ideia da tua afilhada Teresa, a mulher mais organizada deste mundo..!
Essa mulher é um fenómeno!!! quando tiver mil filhos não vai conseguir controlar o que sai do frigorífico. Chega ao Excel e já está tudo uma confusão e não sabe quem comeu o que ah ah ah. Beijinbos
Ora bem, acabei de ver estes comentários à minha pessoa!! Infelizmente Rosa, não foram precisos mil filhos para estragar a minha organização, foi preciso só um marido que tira coisas do congelador e não dá baixa delas na lista em excel! O próximo passo é pôr uma câmara de vigilância na cozinha ;)
MIL FILHOS??
Câmara de vigilância na cozinha....ahah! Muito bom teresinha! Com os mil filhos apostava em duas ou três:)
Câmara de vigilância na cozinha....ahah! Muito bom teresinha! Com os mil filhos apostava em duas ou três:)
Totalmente.. A minha irmã é sempre muito ponderada: mil filhos, câmaras de vigilância, you name it!
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