Páginas

quarta-feira, 29 de abril de 2015

diário de bordo

era tipo tremor de terra. mas daqueles que não é na terra, é dentro de ti. acordas com aquilo, vais trabalhar com aquilo e já paravas. o miúdo não se mexe e pensas que talvez seja importante dares uma ligadela ao médico. resistes a pedir-lhe para ligar ele porque tens que ser mulherzinha. ligas e tentas não parecer fiteira. quase que te escapa um ‘liguei só para saber de si’, tal é o que evitas dizer que alguma coisa está mal. às tantas sai-te a razão para teres ligado e ele diz para ires às urgências fazer análises. trabalhas ao pé do hospital público e pensas porque não?, é grátis e vou lá num instante quando sair. num instante, certo. chegas e levas com pulseira PSD. não sabes o que quer dizer mas acreditas que é melhor que verde. sentas-te, a fila é pequena. começam a entrar as miúdas de 14, 15 e 16 anos e alguma coisa te diz que não deviam estar ali. duas horas depois continuas no mesmo sítio, só com o dobro da falta de paciência. agarras-te à dele. rogas pragas à poupança e pensas que tens seguro para isso, para ir até uma CUF e estar despachada faz tempo. às tantas pensas seriamente em enveredar pela via da feira da ladra e tentar entrar à força. não vai dar. três horas depois lá te chamam e dizem que está tudo ótimo. tem mais meio quilo de gente do que o percentil normal mas isso já sabias. voltas a tentar um ‘o pai da criança tem dois metros’, que não tem. parecem convencidas. voltas para a sala de espera mais uma hora enquanto os resultados das análises não chegam. entra uma com a amiga e está claramente grávida – o botão das calças-non-pregnancy já não aperta e passeia-se com aquilo assim, do mais lindo que há! impossível não ouvir a conversa e fico com pena, mesmo pena. ‘o filho é meu, ele que o saiba que este filho é só meu’. às tantas entra o ‘ele’ da conversa e traz um sumo da máquina. ela agradece e a amiga tem que sair porque só há vez para um acompanhante. não quer o sumo e baixa as defesas – a amiga já não está ali. sorriso tímido e percebe-se que não são nada um ao outro. até são, são estranhos. vem aí uma criança e os pais não se conhecem. mas ainda bem que vem, há soluções aparentemente mais simples e que iriam só destruir duas vidas. já sei que há disto aos montes mas veres de perto é diferente. as análises que deveriam demorar 25’ bem contados já vão em uma hora de espera. volta o desencanto pelo H público e recomeças a falta-de-saco-mood. finalmente chegam, uma hora depois e metes conversa com um casal escurinho que está ali desde que chegaste. entraram às nove da manhã e ainda vão para a amadora. é quase meia noite e percebes que o teu caso não é nada, que tens que ser mais paciente. e bastante mais alegre nessa paciência e nessas contrariedades. tiras a cara de #trombasdealegria e segues para o carro. e só ao chegar a casa pensas que lhes podias ter dado boleia e já estavam eles também em casa. a falta de paciência traz um tipo de cegueira. a ver se nos voltamos a cruzar senhores africanos, e prometo que vos levo comigo.


3 comentários:

Vera disse...

#gravidapode

Anónimo disse...

Ana querida, espero que esteja tudo bem contigo e com o baby!

Um beijo ;)

Ana disse...

Vera!!! E anónimo! Rejubilando por vos ter aqui :) baby ótimo e eu já a aprender com ele a ter que ser mais paciente.. beijos!