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quarta-feira, 8 de maio de 2013

DEGRAU #5

Olhos daqueles, sabem? 
Daqueles que trazem um rio atrás. 
Daqueles onde apetece entrar. 
Diziam que Josemaria Escrivá tinha esse olhar e eu acredito que sim. 
Que seriam olhos com uma profundidade plena.

E hoje conheci o Senhor Paiva. Estou, bom dia, estou a falar com o Senhor Paiva? Sim, era ele. Olhe, eu queria fazer a revisão do carro, preciso de uma buzina nova, a porta do lado esquerdo não abre, devo ter que mudar o óleo e.. acho que já lhe devia ter ligado porque ando há uma semana sem inspeção. Dois minutos de silêncio do outro lado. Conversa retomada. Pode vir buscar o carro ao meu escritório? Diz que sim. Então até já. 

Desci e conheci o Senhor Paiva, o filho e o amigo do filho. Gente simples, como eu quero ser ontem. Passou-bem e sorriso. Olhe que o carro agora é só meu, por isso é o mínimo indispensável está bem? Zero jeito para negociar, preciso de um workshop de três semanas in Marrocos. E parei. E olhei. E parei. Aqueles olhos, debaixo de um cabelo grisalho, eram tudo o que eu queria. De uma bondade extrema, de um homem puro de coração. 

Fiquei a pensar na raridade daquilo. Não eram azuis, nem amarelos nem mesmo verdes. Eram simples, que é tão mais raro do que azul, amarelo ou verde. E subi de volta para a minha secretária, a pensar que, se for grande, quero ser uma senhora Paiva. Com aqueles olhos, debaixo de um cabelo grisalho.

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