Páginas

quarta-feira, 10 de abril de 2013

CONVERSAS ÁS 23H15

Ele: Boa noite, tem um cigarrinho?

Levantou os olhos do bloco de papel que tinha em cima dos joelhos e olhou para aquele que tinha interrompido a sua dissertação noturna.

Ela: Olá, boa noite com hesitação, não havia mais ninguém ali à volta e a cara era mais desconhecida agora que há dois minutos atrás. Desculpe, aqui só tenho isqueiro, os cigarros ficaram no carro..

Ele: Sem problema. Já agora, podemos conhecer-nos?

Ela olhava para o lado, à procura de alguma coisa que a fizesse parecer ocupada, muito ocupada. Tinha as folhas e tinha uma caneta, o suficiente para parecer ocupada ás 23h de um dia de semana. Tinha ainda sete degraus à sua frente, os degraus daquela que era paragem obrigatória nos tempos que correm.

Ela: Desculpe, continuava naquela mania irritante de pedir desculpa porque sim e porque talvez, agora estava ocupada com umas coisas.

Ele: Sem problema. Tenha uma boa noite!

(Passaram-se 3 minutos, 2 minutos e muito se bem contado)

Ele: Olá outra vez!

Voltou a sair do seu espaço de tempo e olhou para cima. Era novamente o mesmo senhor retinto de há 2 minutos e muito atrás, e desta vez vinha sorridente, um sorriso-menos-3-dentes. E desta vez a expectativa aumentara com o que viria aí - se um novo amigo ou se menos um telemóvel.

Ele: Arranjei dois cigarros. Um para mim e um para si!

Ela agarrou no Chesterfield, derretida com o senhor do sorriso-menos-3-dentes.

Ela: Obrigada por se ter lembrado.
Ele: E agora? Já nos podemos conhecer?
Ela: Sim, claro que sim a meio gás, sem saber o que significava 'conhecer' no meio daquela rua, naqueles degraus e aquelas horas do dia. Olá, eu sou a Ana.
Ele: Mana? meio incrédulo, a achar que a miúda já queria pertencer ao gueto antes mesmo de ter sido convidada a entrar.
Ela: Não, não. Sou a A-na. Ana. E tu?
Ele: Ah, eu sou o Xico. Xico Esperto.
Ela: Olá Xico, obrigada pelo cigarro, continuava naquela mania irritante de agradecer mais do que uma vez porque sim e porque talvez.

Nisto, vê-se o Xico a baixar-se, uma cara de sorriso-menos-3-dentes em direção a ela.

Ela: Ah, dá direito a saudações à séria?
Ele: Sim, a duas! Um, saltinho e outro referindo-se aos dois beijos pespegados na cara dela.

Trocaram sete palavras, não mais. Foi-se embora tão depressa como chegou. E ela ficou a pensar na gente boa que para aí anda, gente simples: com menos 3 dentes e mais de dez estrelas.

2 comentários:

Carolina Perry disse...

Que post fantástico! São historias que so a nossa querida Lisboa (e lisboetas...) nos podem dar! Que feliz que estou por a noticia de fecho nao ter sido definitiva! Grande beijinho, Carolina

Ana disse...

Queridíssima Carolina! Que bom receber estes comentários. Quero saber de ti, tenho saudades. Só nos encontramos randomly, e não pode ser. Um beijo muito grande