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segunda-feira, 15 de abril de 2013

AGORA COMEÇO

Há uma liberdade que nos constitui e que marca a diferença entre o eu e o eu e entre o eu e nós. Cada um define os seus próprios limites: umas vezes em prol da linha, outras porque sabe que por aí, exatamente por aí, não há caminho possível e outras vezes por saber mais do que à partida gostaria.

A essa liberdade, unem-se todas as decisões que tomamos - maiores, mais pequenas. Mas em todas, há o instante imediatamente anterior à tomada da decisão, em que queremos dominar o que se passa, controlar o que fica por dizer e acertar o first shot. Na maior parte das decisões, queremos que alguém esteja ali, ao nosso lado. A dar o ritmo aquela que nos parece ser a jogada para bingo e que no caso da coisa dar para o torto, poderá justificar parte da decisão. No fundo, as decisões 100% nossas são poucas, muito poucas.

E tudo isto segue uma normalidade que não espanta: vivemos em comunidade. Queremos a aprovação dos que estão sentados ali, à nossa volta. Queremos acertar à primeira em tudo, porque esse tudo são 78 anos de vida na melhor das hipóteses e não há tempo a perder. Queremos ser aquilo com que sonhamos desde pequenos, com ligeiras alterações. Sabemos o que não queremos, mas isso está longe de ser uma decisão. As decisões, essas, são sempre afirmativas. Não queres isto, porque queres aquilo. Na afirmação está a decisão.

Há uma liberdade que nos constitui e que marca a diferença entre o eu e o eu e entre o eu e nós. Vivemos desta liberdade: atrai-nos a ausência de limites, o risco de saltar telhados, os espaços sem fronteiras de nenhum tipo. E tem tudo a maior graça, até perceber que as limitações não estão nas decisões. Os limites à minha liberdade não estão na altura do telhado que quero saltar, estão dentro de mim. Para ser totalmente livre, tenho que libertar o que me constitui. E isso implica dois conceitos-chave: o querido auto-conhecimento e o seu primo, o auto-domínio.

Não vives para estar fechado em ideias, em espaços ou em paragens de autocarros. Mas se queres realmente ser-te, em plenitude, precisas de te conhecer. A fundo, a fundo, a fundo.

Foi a isto que me dediquei nos últimos dois dias de um fim-de-semana de sol em Sintra. Foram dois dias de retiro em silêncio, a tentar reconstruir os fragmentos dos 365 dias do último ano. Umas vezes com sucesso, outras a meio-gás e outras a saber que preciso de começar do zero. A juntar as peças de um puzzle de várias fases, duas trocas de emprego voluntárias, amores e desamores, muitos quereres, mudanças de vida - minhas, na da T, delas -, gente nova, desconhecida há 366 dias atrás.

O que me fez voltar este ano? Saber que, à semelhança do passado, volto como uma folha A4 nova, sem vinco. Com baterias recarregadas e a ver tudo com 300% mais luz. Acima de tudo, faz-me voltar a única parte que se mantem segura e lado-a-lado na minha vida, desde há 23 anos - a fé.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom demais!!! Obrigada <3

Ana disse...

eu!